sábado, 13 de setembro de 2014

Projeto: Coco e maracatu




 Introdução



O projeto tem como tema “COCO E MARACATU” e será desenvolvido durante as oficinas de percussão aliando teoria musical, literatura e prática de conjunto. Com esse projeto eu pretendo oferecer conhecimentos acerca de dois ritmos nordestinos, finalizando na execução de duas músicas relacionadas com esses ritmos usando a voz e instrumentos convencionais e não convencionais. O “coco” é uma dança que faz parte do folclore nordestino, porém com origem incerta. Algumas pessoas dizem que veio da África, trazida pelos escravos. Outros afirmam que é a união das culturas negras e indígenas e tem sua forma musical cantada e acompanhada por instrumentos de percussão como o ganzá, o triângulo, pandeiro e batidas dos pés. É também conhecido como samba, pagode ou zambê.
Já o “maracatu”, tem origem negra e religiosa. Existem dois tipos de maracatu, sendo o “baque virado” também conhecido por maracatu Nação que tem relação com o Candomblé (religião de matriz africana) e a coroação de escravos negros que se desenvolve num cortejo que conta com o rei, a rainha e uma corte simbólica. O “baque solto” que é conhecido por maracatu Rural, não tem vínculo religioso e seus personagens principais são os caboclos de lança representados pelos trabalhadores rurais. Esse maracatu faz parte do folclore Pernambucano. 


Fundamentação teórica
O Projeto “Coco e maracatu”, será desenvolvido com base na prática de conjunto priorizando dois ritmos nordestinos. Ao apresentar o repertório, corre-se o risco de rejeição por parte dos alunos, porém, uma das propostas é trabalhar o respeito pela diversidade musical levando conhecimentos acerca de ritmos não tão comuns ao cotidiano do grupo.
De acordo com Hentschke et al, (2006), “Há casos em que as músicas soam estranhas, porque ainda não nos familiarizamos com elas. É como se fosse um outro idioma que ainda não aprendemos a falar” (p.9). Sendo assim, o projeto “Coco e maracatu” fará o elo entre o conhecimento prévio do aluno e o desconhecido. 


Conforme Hentschke e Del Ben (2003), “é possível vivenciar a música de três maneiras: compondo, executando ou apreciando. As atividades de composição, execução e apreciação são aquelas que propiciam um envolvimento direto com a música, possibilitando a construção do conhecimento musical pela ação do próprio indivíduo” (p. 180).
A prática de conjunto, atividade prioritária do projeto, tornará as aulas mais musicais e consequentemente mais agradáveis consolidando a aceitação do projeto por parte dos alunos. Sendo assim fundamentado, o projeto proporcionará momentos de interação e criação com os alunos envolvidos no processo.


Objetivo Geral
Conhecer e executar dois ritmos nordestinos através de experiências em prática de conjunto envolvendo atividades de apreciação, composição e execução finalizando com uma apresentação dentro da programação da culminância do projeto institucional da escola.

Objetivos Específicos
·         Trabalhar pulsação individual e em grupo;
·         Trabalhar valores e o respeito à diversidade musical;
·         Conhecer os ritmos nordestinos a serem trabalhados no projeto;
·         Manusear instrumentos convencionais e não convencionais;
·         Tocar e cantar os ritmos e canções escolhidas:

Repertório
O repertório para esse trabalho foi escolhido visando trazer ritmos diferentes da vivência musical dos alunos, e dessa forma, proporcionar um contato com esses ritmos que, mesmo que os alunos já tenham ouvido, não façam parte do repertório deles. Escolhi trabalhar com duas músicas de um artista nordestino que, a meu ver, é um artista completo pois, além da música ele trabalha com a dança e o teatro. Suas composições são verdadeiras histórias onde, com um jeito lúdico, ele retrata o cotidiano nordestino. Antônio Carlos Nóbrega nasceu em Recife – PE, no dia 02 de maio, aos 12 anos de idade ingressou na Escola de Belas Artes do Recife, foi aluno do violinista Luis Soler e estudou canto lírico com Arlindo Rocha. 
Do seu repertório, foram escolhidas as seguintes músicas:
Mateus, embaixador: maracatu de “baque virado” ou maracatu Nação.

Mateus Embaixador

Antonio Nóbrega

Mateus embaixador,
estrela alva do dia,
que sonho é esse?
que sina é essa?
meu povo, meus senhores,
aqui estou no meu destino,
estou no meu desatino,
vim brincar neste lugar.
Sou o mateu presepeiro
sou canção, sou o João Grilo,
eu sou o Benedito,
Tira-teima e o Tiridá.
Minha volta é essa,
sou ligeiro, Pedra-lispe,
também sou onça-tigre,
minha dança é de invocar.
Minha roupa é de chita
é meu lírio, é o meu gibão.
É a rabeca na mão
é o azougue, é o meu punhal.
Na pancada do ganzá: coco.
            Disponível em: http://letras.mus.br/antonio-nobrega/192491/

Na Pancada do Ganzá

Antonio Nóbrega

Eu estava em casa
Mastigando o pensamento,
Olhando pro firmamento,
Que era noite de luar.
E de repente
Uma estrela cadente,
Piscando na minha frente,
Parou pra me falar.
Ela me disse:
Meu poeta camarada,
Tome aqui, quero lhe dar
Um presente magistral.
E foi tirando
Do seu peito colossal
Um instrumento real
Que ela chamava ganzá.
Meu ganzá, meu ganzarino,
Meu ganzarino real,
Gira o mundo, treme a terra,
E eu na pancada do ganzá.
Quando eu peguei
Meu ganzá pra cantar coco
Eu pensei que tava louco,
Eu não pude acreditar,
Pois na primeira
Batida da minha mão
Meu ganzá caiu no chão
E deitou logo a falar:
Salve o coquista
Que chegou de longe agora
Você veio bem na hora
De poder me resgatar
Da solidão
Onde eu tenho vivido,
Onde têm me escondido
Para eu não me revelar.
Sou um instrumento
Pequeno, feio, chinfrim
Que trago dentro de mim
Basculho pra sacolejar,
Garrafa velha
Qualquer coisa reciclada
Dou beleza ritmada
Quando vêm me balançar.
Dou marcação
Pro samba, pro fox-trote
Pro baião, forró e xote
E o que mais venham inventar.
E o que vier,
Até som do outro mundo,
Sou primeiro sem segundo
Na arte de ritmar.
E o ganzá
Se colou na minha mão,
Apertei ele e então
Senti forte um balançar.
Fazia assim:
Tum, tum, tum, tum, tum, tum, tum
Como no peito o baticum
Que tá pronto pra amar.
E fui cantando,
Fui dizendo ao ganzarino:
Te conheço de menino
Mas hoje fui te encontrar.
Ele falou:
Te conheço há bem mais tempo
Mas não vai ter contratempo
Que possa nos separar.
E disse mais:
Meu cantor, meu menestrel,
Eu conheço esses céus
Antes de cabral chegar;
Pode ir me ver
Onde eu fui desenhado:
Pelo pré-homem datado
Lá na pedra do ingá.
Eu aprendi
Sobre ele e ele de mim,
E tem sido sempre assim
E assim sempre será,
Pois nessa vida
Quem ensina sempre aprende
E a gente mais entende
O que foi e o que virá.
Fomos cantando
O país do futebol,
D'amazônia, praia e sol
Do babau, do boi-bumbá
Do são joão, da cavalhada
Do repente, da congada
Da catira e do guará
Esse país,
Feio, rico, pobre, lindo
Que eu não sei pr'onde tá indo
Mas eu sei que chega lá.
Fomos ouvir
A floresta tropical,
O sertão, o litoral
Ver a seca, a preamar.
Por isso eu digo,
Meu amigo, camarada
Se não tá fazendo nada
Por que cê não vem pra cá?
Tire a gravata
Do pescoço, solte o nó,
Abra o peito e o gogó
Eu, você e meu ganzá.
Metodologia

Para facilitar a compreensão dos alunos sobre o estilo musical que trabalharemos no estágio, serão apresentadas como exemplo as duas músicas com os ritmos propostos que farão parte do repertório do projeto. Optei por escolher para o repertório as músicas “Mateus, embaixador” e “Na pancada do ganzá” por apresentarem claramente em suas execuções, os ritmos que pretendo trabalhar com os alunos. Dessa forma, ficará fácil a percepção das funções de cada instrumento o que os ajudará na leitura e escrita musical dos ritmos.
 Será um trabalho que envolverá pesquisa e práticas individuais e de conjunto com o intuito de explorar e executar os ritmos. Com a pesquisa, os alunos poderão ter uma visão mais ampla do trabalho desse artista, e assim fazer uma comparação com as músicas que fazem parte do seu cotidiano. Com isso, abre-se um leque de possíveis questionamentos, os quais serão respondidos no decorrer do projeto. 





Recursos didáticos 
                                      Folhas impressas com as letras do repertório; 
                                     Cd com as músicas do repertório;
 Recursos materiais
·         Caixa de som com entrada para pen drive e cartão de memória;
·         Pen drive ou cartão de memória com as músicas do repertório;
·         Gizes;
·         Câmera digital para fotos e vídeos;
·         Quadro negro;
·         Pandeiros;
·         Caixa;
·         Ganzás;
·         Triângulo;

Avaliação
A avaliação será feita por observação e relatório com ênfase nos aspectos cognitivos, afetivos e sociais, ou seja, na forma da aprendizagem e na maneira de lidar com as atividades individuais e em grupo. O ponto principal a ser avaliado no início do estágio será a aceitação das atividades propostas e do repertório por parte dos alunos. No segundo módulo a avaliação será sobre as habilidades de pesquisas e manuseios dos instrumentos bem como a interação dos grupos. O produto final será avaliado pela apresentação em sala de aula do repertório trabalhado com execução dos instrumentos e canto. Minha participação mediadora nesse processo de ensino e aprendizagem será avaliada através da minha capacidade de conduzir as aulas de forma musical, atendendo as necessidades e questionamentos dos alunos em tempo hábil, minha segurança na transmissão das informações e criatividade nas possíveis mudanças que poderão ocorrer no desenvolvimento do projeto.

 
REFERÊNCIAS
 
HENTSHKE, Liane; DEL BEM, Luciana. Aula de música do planejamento e avaliação à prática educativa. In: HENTSHKE, Liane; DEL BEM, Luciana. Ensino de música: propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Ed. Moderna, 2003, p. 176-189
 ROMANELLI, Guilherme. O Planejamento no estágio em música: Desafios e sugestões. (p. 13)
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